US$ 200 mil em espécie apreendidos com agente da PF agravam desgaste político; PDT pode deixar base aliada

Por Gabriela Albino | 2 de maio de 2025
Um esquema bilionário de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) estremece o governo federal e gera desdobramentos nas esferas policial e política. Nos últimos dias, a crise se intensificou após a Polícia Federal apreender US$ 200 mil (equivalentes a R$ 1,1 milhão) em espécie na posse de um agente da própria corporação, Philipe Roters Coutinho, durante cumprimento de mandado de busca e apreensão no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
O agente, que está afastado do cargo por ordem judicial, é suspeito de participação direta no esquema, que teria desviado recursos de aposentados e pensionistas desde 2019 para favorecer empresários e servidores. Imagens de câmeras de segurança mostram Coutinho conduzindo dois investigados por áreas restritas do aeroporto, além de facilitar o embarque deles em avião privado utilizando uma viatura ostensiva da PF — de uso exclusivo em serviço.
Segundo o relatório da PF, os deslocamentos e compras de passagens em nome de Coutinho demonstram um padrão atípico de viagens, reforçando as suspeitas sobre sua ligação com os autores das fraudes.
Pressão política: Lupi na mira
Paralelamente ao avanço das investigações, o escândalo colocou sob pressão o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), que passou a avaliar a possibilidade de exoneração do cargo. Segundo aliados, ele se sente politicamente isolado, especialmente após o governo nomear, sem sua consulta, o procurador federal Gilberto Waller Júnior como novo presidente do INSS.
Embora não esteja na agenda oficial, Lupi deve se reunir com o presidente Lula ainda nesta sexta-feira (2) para discutir seu futuro na pasta. Fontes do Palácio do Planalto não descartam uma saída discreta.
Na última terça-feira (29), Lupi passou cinco horas em audiência na Câmara dos Deputados, defendendo-se das acusações de omissão e apresentando um balanço das ações do governo no combate às fraudes. Ele afirmou que 268 investigações foram abertas nos últimos dois anos e que, em 2023, já havia solicitado ao INSS uma apuração interna sobre corrupção — cujo responsável foi exonerado por demora nos resultados.
No entanto, o episódio remete à crise que envolveu o próprio Lupi em 2011, quando deixou o Ministério do Trabalho após acusações de desvios em convênios com ONGs. Agora, mais uma vez no centro de um escândalo, Lupi estaria disposto a deixar o cargo, mas quer sair após apresentar sua versão dos fatos.
PDT ameaça deixar o governo
A possível saída do ministro pode provocar um rompimento político. O PDT, partido ao qual Lupi é presidente licenciado, sinaliza que deixará a base governista caso ele saia do ministério, mesmo que por vontade própria.
O líder do partido na Câmara, deputado Mário Heringer (PDT-RS), afirmou à CNN:
“Se demitir o nosso presidente Lupi, nós queremos também sair desse compartimento político, porque esse compartimento político não trata com reciprocidade e fidelidade os seus.”
Enquanto o governo tenta conter os danos e a Polícia Federal aprofunda as investigações, a Advocacia-Geral da União (AGU) já prepara ações judiciais para ressarcimento aos cofres públicos.
A crise no INSS se mostra uma das mais sensíveis da atual gestão, com potenciais impactos não apenas na área previdenciária, mas também na estabilidade política da base de apoio ao governo Lula.