Alzira de Souza Umbelino Cardillo
A fraternidade brotou nos corações de dois amigos
e de repente estava por ser interrompida.
O fato foi que o amigo azul
comentou com o amigo marrom
que não estava certo
se podiam continuar amigos
visto que não eram iguais,
suas cores eram diferentes demais.
O amigo marrom
olhou o amigo azul bem nos olhos
e assim respondeu:
eu sou negro mestiço,
negro-marrom, negro-preto, negro de raça
negro de raiz, negro de nariz,
de unhas e dentes.
Se você gosta de mim, goste-me como sou
ame minha pele, meu cabelo,
minha identidade, minha cor.
Ame minha história intercontinental
meus antepassados
que me trouxeram onde estou.
E ame meu mundo preto,
amarelo, laranja, cor-de-rosa,
minhas paixões, minha dor,
minha alegria multicor.
Se eu fosse de todas as cores,
pintado feito suave arco-íris, listrado
e você fosse feito tela de aquarela,
quem sabe entendesse, meu pobre amigo,
que todas as cores
estão com você, estão comigo.
Assim, o amigo azul, até então cabisbaixo,
levantou a cabeça e tímido declarou:
estou envergonhado, meu querido amigo,
por tanta importância ter dado
ao detalhe da cor.
Se você puder,
perdoe-me a ignorância, o preconceito,
se você puder,
aceite-me, não por meu merecimento,
mas em nome do perdão,
da amizade, do amor.
Desculpas aceitas,
os amigos de cores diferentes
abraçaram-se iguais.
*Mestra em Literaturas de Língua Portuguesa